20 de set. de 2012

Ferrou, deu positivo

Por Ana Carolina Soares  — Era de manhã e precisava saber se realmente a “neura” estava atrasada por algum problema psicológico. Sou desequilibrada mesmo, não estranharia. Mas meu desequilíbrio dessa vez não era à toa. Era sério. O beta deu positivo e achei que a notícia causaria dois infartos, um em minha mãe e outro em meu pai.
Mas tudo se acalmou e comecei a enfrentar outros problemas. Calor de 50 graus, transporte lotado, barrigão. Todo dia, às 7 da manhã, começava a maratona. Pegava um trem ou um ônibus entupido e quase nunca havia um lugarzinho para mim. Mas estou grávida, pensava.
Lembro que grávidas e idosos me perseguiam antes de eu ficar grávida. Sempre havia para quem ceder meu lugar, impressionante.Quando a relação se inverteu, adotei como estratégia jogar a barriga em cima das pessoas sem noção ou boa vontade. Imagina se, com aquele barrigão, eu ia ficar em pé enquanto eles dormiam. Batia com a barriga e sempre conseguia sensibilizar uma “boa” alma. Uns me olhavam de cara feia, como se dissessem: “não mandei sair de casa e muito menos engravidar”. Às vezes pegava o ônibus e o motorista olhava para mim com cara de mongol e perguntava: “Quer entrar por trás?”. É claro que quero. A não ser que leve a roleta junto com minha barriga de Free Willy.
Me arrumar era um sacrifício. O que antes fazia em 30 minutos, grávida perdia quase hora e meia. Com sete meses comecei a ter cada vez menos mobilidade. Me cansava do nada.
Colocar roupas ou meias requeria tempo e técnica apurada. Dormir era um desafio.
Minhas consultas de pré-natal também eram um sofrimento. Nem tanto pela condução lotada. Só de pensar que quando chegasse ao consultório ia saber quantos quilos havia ganhado ficava deprimida. Será que vou conseguir voltar ao peso normal depois de tanto tempo “obesa”? Em uma consulta, o Bernardo quase nasceu com o susto que levei: havia engordado 5 quilos em 20 dias.
E chorava porque o que tinha de “gorda” tinha de fome e, assim, sabia que engordaria mais.
Os meses foram passando e fui passando também de bola para bolão. Minha cara estava inchada, não me aguentava em pé, minhas roupas foram sumindo e as da minha irmã (mais alta do que eu) já quase não cabiam mais. Me desesperei com a chegada do oitavo mês.
Comecei a ter desejos estranhos, como o de beber detergente. A empregada lá de casa passava mais tempo escondendo os detergentes do que trabalhando. Comecei a ter estrias.
E chorava sem saber o que seria de mim depois. Será que ia ficar com aqueles 64 quilos?
Última semana de faculdade. Nove de abril se aproximava e o Bernardo ia nascer. Não sei se queria ou não queria. A gravidez tem suas vantagens, sem contar os mimos. Mas, por outro lado, queria que passasse rápido, que minhas roupas e meus sapatos voltassem, que pudesse dormir de bruços, que pudesse pintar um loiro bem loiro de novo no meu cabelo.
Cabelereiro também tem família e o meu, coitado, ficou nove meses sem ver a cor do meu dinheiro.
A bolsa do bebê estava pronta há um mês. Quase todo dia colocava uma roupinha nova nela. Ia ficar só dois dias no hospital, mas achei que ia passar as férias lá. Levei 15 roupinhas para o Bernardo, uma de cada cor. Vai entender. Entrava em pânico quando lembrava que ia ser operada. Anestesia, pontos e corte na barriga. Quase desmaiava.
Cinco de abril, último dia de pré-natal. Alívio, pelo menos não engordaria mais do que 14 quilos. Tranquila, calma, serena e... sou informada que ele teria que nascer naquele momento. Como assim? Por quê? Não pode ser amanhã ou talvez daqui a duas horas? Eu estava e não estava preparada, queria e não queria, sorria e chorava ao mesmo tempo. Mil sensações misturadas e soluçava de medo. Pedi à médica pelo menos mais 2 horas, mas não teve jeito, o Bernardo ia nascer.
Deitada na sala de cirurgia, minha mão pingava de suor e meu coração quase saía pela boca. A anestesia pegou rápido e não sabia se não sentir o corpo era normal ou estava desmaiando de medo e nervoso. Quis acreditar que era a anestesia. Às 23h20, o Bernardo nasceu e não sabia se chorava de felicidade ou de não ter sentido nenhuma dor. Depois que vi o rostinho dele, me acalmei em segundos e descobri imediatamente o amor incondicional.
Hoje, independentemente do medo que senti, do peso que ganhei, das roupas que perdi, sei que encontrei o homem mais importante da minha vida: meu filho.

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